Sou um emaranhado de acertos e erros, luzes e sombras, qualidades que me orgulham e defeitos que ainda me desafiam. Sou um rascunho que vive se reescrevendo, uma alma em constante construção.
Sinto que aquilo que não enfrentamos em nós mesmos retorna, cedo ou tarde, como um destino que nós mesmos traçamos pela negligência. E talvez seja isso que mais me inquieta — a responsabilidade de olhar para dentro, de encarar minhas sombras e transformá-las em caminho.
Nem sempre sei exatamente quem sou. Às vezes, me reconheço com clareza; outras vezes, me perco entre os papéis que desempenho e as exigências que coloco sobre mim. Mas mesmo quando não tenho todas as respostas, carrego comigo uma certeza: quero ser alguém melhor.
Melhor não no sentido de ser perfeita, mas de ser mais verdadeira comigo mesma. Carrego em mim a empatia que me aproxima do outro, a coragem que me faz seguir mesmo com medo, a fé que sustenta meus dias escuros. Mas também trago falhas que me ensinam: o orgulho que ainda resiste a ceder, a ansiedade que atropela meu tempo, a insegurança que me faz duvidar de mim.
Há uma intensidade que pulsa em mim, tornando minhas alegrias vibrantes e minhas tristezas, por vezes, absolutas — como algumas almas literárias já expressaram tão bem. Sou feita de extremos, mas aprendi a buscar o equilíbrio: aquele ponto silencioso entre a dor e a paz, onde mora a maturidade.
Acolho a ideia de que devemos fazer o nosso melhor com as condições que temos no momento, enquanto não alcançamos condições melhores para fazer melhor ainda. Isso me lembra que ser melhor não é um ponto de chegada, mas um compromisso diário com o que sou agora — e com o que posso me tornar amanhã.
Crescer, em grande parte, é aprender a dizer adeus. E como é difícil dizer adeus... Às vezes, precisamos deixar para trás partes de nós — versões antigas que já não nos servem. A evolução exige renúncia, mas também gratidão: por tudo o que nos trouxe até aqui.
Quando me sinto vulnerável, lembro que é justamente nesse espaço de incerteza — onde a coragem de ser imperfeita se manifesta — que nascem a inovação, a criatividade e a verdadeira mudança.
Ser melhor a também por aceitar que nem sempre saberei o caminho. E tudo bem. Posso aprender enquanto caminho, com humildade no coração e fé nos pés.
Aqueles que enfrentaram horrores e ainda assim escolheram acreditar no sentido da vida nos ensinaram uma lição poderosa: quando não podemos mais mudar uma situação externa, somos profundamente desafiados a mudar a nós mesmos. E é exatamente isso que tenho tentado fazer: mudar por dentro, ainda que o mundo ao redor siga o mesmo.
Descobri que mergulhar em mim mesma não é egoísmo — é responsabilidade. É a única forma de oferecer ao mundo o melhor que posso ser. Uma jornada rumo à verdadeira libertação interior. E nas horas mais frágeis, quando tudo parece pesado demais, escuto em silêncio a voz que me diz: sou feita de ausências, de medos, de esperanças..., mas, acima de tudo, sou feita da vontade de acertar. Essa vontade me move. Me levanta. Me reconstrói.
Quem eu sou?
Alguém imperfeita, mas inteira na intenção. Uma mulher que tenta todos os dias ser mais luz do que sombra. Que aprende, desaprende e reaprende. Que caiu — mas se levantou com mais sabedoria. Que não busca ser perfeita, mas presente. Mais real. Mais humana. E se me perguntarem o que desejo da vida, responderei com simplicidade: Quero ser uma boa pessoa. Com leveza na alma, verdade no olhar e paz no coração.
Soraya Medeiros é jornalista com mais de 23 anos de experiência, possui pós-graduação em MBA em Gestão de Marketing. É formada em Gastronomia e certificada como sommelier